Você com certeza já passou por isso: Acordou naquela segunda-feira de manhãzinha, depois de um domingo agitado, sentou na sua cozinha e disse: Eu preciso de um café!
Pois é, o café não é só uma paixão global, ele é o verdadeiro motor da civilização moderna, nos acompanhando ao longo de todo nosso dia, seja no começo da manhã com um pãozinho francês, seja naquela xicarazinha clássica de espresso depois do almoço, ou no finalzinho da tarde, depois de chegarmos cansados do serviço, ou talvez até de madrugada, como todo bom universitário sabe dizer.
Mas você já parou para pensar de onde ele vem? Certamente ele não nasce direto no saquinho a vácuo na prateleira do mercado! Mas não se preocupe, pois vamos te contar toda a história que você sempre quis saber: sua origem, seu impacto na trajetória da humanidade, seu plantio e sua torra. Ah, e é claro, vamos coroar a história do nosso amado grão com a invenção do espresso!
100% Arábica. Então ele deve ser árabe, não? Pois é, não é.
Contrariamente do que pode ser imaginado, o café não é originário da Península Arábica, mas sim da Etiópia. A Etiópia é um país localizado na região conhecida por Chifre da África, ou ainda Península Somali, região, esta, compreendida no nordeste Africano, ao leste do Mar Vermelho e do mar Arábico. Fazem parte desta região a Etiópia, o Quênia, a Somália, o Djibouti e a Eritréia.
Além da Etiópia, podemos também creditar como possíveis regiões originais do café o Sudão, o Quênia e a Eritreia, sendo que esta última costumava a ser parte da Etiópia, tendo obtido sua independência em 1993.
Assim, o café é africano, e não árabe!
Ok. Sabemos sua origem, mas como se descobriu essa bebida maravilhosa?
Segundo a lenda, a história do café começa com um pastor que observou um fato intrigante: Suas cabras, ao comerem frutos e folhas de uma certa plantinha, ficavam ativas, com energia e mais espertas. Dotado de um experimentalismo científico natural do homem antigo, o pastor resolveu experimentar comer essas frutinhas e ver se eram saborosas. Nessa época, via de regra, as bebidas eram feitas macerando os ingredientes e dissolvendo em líquidos, ou fazendo chá. Aprovado o experimento, o pastor levou sua descoberta a um monge. Não compreendendo bem do que se tratava, o religioso tratou o café como obra do diabo e ordenou a queima completa das plantas. Todavia, ao subir o delicioso aroma de café torrado, achou melhor reconsiderar e dar ao café uma segunda chance.
Lendas à parte, pouco se sabe do início do café. O que se pode dizer era que os Etíopes, por volta do século VII, faziam uma pasta com o grão moído e a usavam tanto para alimentar seus animais quanto para aumentar a energia de seus guerreiros.
Certo, não é árabe, mas o café árabe é famoso, não?
E como! Dada a proximidade da África com a Península Arábica, fica fácil ver como o café rapidamente se alastrou e ganhou o mundo árabe.
Levado para a Arábia por prisioneiros de guerra, ou ainda devido ao forte tráfico de escravos África-Arábia, que perdurou por séculos, o café rapidamente penetrou na península.
Ao chegar, o café recebeu o nome de kahwah e teve sua produção inicial no Iêmen. Por um curto período de tempo, o café sofreu restrições religiosas, devido a suas propriedades serem consideradas contra o código de Maomé, porém, rapidamente essa barreira foi superada, e o café passou a ser parte integrante do dia a dia da população, ganhando lugar cativo nos grandes círculos intelectuais e até mesmo em cerimônias religiosas.
Derrubadas as barreiras, o café se ramificou por todo o mundo Árabe, chegando até Constantinopla (atual Istambul ) que, por sua vez, era o maior entreposto comercial do mundo antigo. Assim, o café tornou-se um importante produto comercial.
Até este momento o café era consumido como uma infusão, sendo sua primeira torra atribuída aos persas, no século XVI.
Além de encontrar terreno apropriado para seu plantio, o café foi fortemente beneficiado pela lei seca islâmica, que proibia o consumo de bebidas alcoólicas. Tal fato pode ser evidenciado pelo café, em turco otomano, ser chamado kahve, palavra que também designava o vinho.
Curiosamente, a fama e a importância do café no mundo árabes foram tão grandes que levaram Lineu, famoso naturalista tido como o pai da taxonomia moderna e criador da nomenclatura científica, ao erro, tendo batizado o café com o nome científico de Coffea arabica, ou café árabe, dando origem a confusão que perdura até os dias de hoje
O café é levado para a Europa. Inicia-se uma nova cultura
No final do século XVI mercadores italianos trouxeram o café para a Europa. Novamente, a bebida sofreu
restrições religiosas, desta vez por ser considerada uma bebida islâmica. Os cristãos do velho continente só viriam a conhecer o seu sabor quando o papa Clemente VIII ( 1536-1605 ) provou a bebida e deu seu aval papal, tendo nascido a partir deste ponto a cultura do café no ocidente.
Com sua proibição revogada, o café percorreu a Europa em toda sua extensão em grande velocidade.
Em 1652 é aberta na Inglaterra a primeira cafeteria ocidental. Em Paris, a novidade chegou em 1672.
Ainda na cidade luz, coube ao cafeeiro de luiz XIV adicionar açúcar ao café, pela primeira vez, em 1713, trazendo assim a amada doçura da nossa bebida favorita. Dado o dinamismo comercial produzido pelo mercantilismo e pelo pré capitalismo, foi uma curta questão de tempo até o café chegar ao Novo Mundo e ao nosso amado brasil.
Nasce o espresso !
Além de trazer e popularizar o café, também coube aos italianos a difícil tarefa de moderniza-lo, fazendo com que seu preparo fosse mais rápido. Aliás, ainda sobre os italianos, podemos dizer que o café na Itália é um verdadeiro estilo de vida. A paixão é tão grande e as variações são tantas que fica difícil manter a conta! Espresso, Macchiato, Corretto, Espresso com Panna, Cappuccino, Marocchino, Nocciolato e tantos outros. É café para todos os gostos!
Voltando ao tópico, estamos no final do século XIX. Apesar de já ser uma mania nacional, ou melhor, transcontinental, o café passa a encontrar seríssimos problemas em se adaptar ao novo estilo de vida europeu.Ele leva tempo para ser feito, pois a água precisa ser fervida e coada. Num mundo agitado e dinâmico, em plena revolução industrial, tempo é dinheiro, e muito.
Em 1884 Angelo Moriondo, em Turim, tentou resolver esse problema e criou o primeiro protótipo da máquina de espresso. Uma caldeira levava líquido aquecido por um duto, coberto com borras de café, para outra caldeira, fazendo assim o café. Apesar de útil, sua invenção ainda usava um processo semelhante ao usual, não sendo muito eficiente.
Em 1902 Luigi Bezerra, natural de Milão, finalmente acertou a mão, e criou uma máquina que viria a ser a mãe do espresso. Bezerra melhorou a máquina de Moriondo, aumentou a pressão para cerca de 10 bars, introduziu um filtro e uma xícara no final da máquina. Assim, a máquina usava vapor para comprimir o pó sobre o filtro, onde o vapor condensava e saia como café espresso na outra ponta, já na xícara. A pressão mais alta garantia agilidade para o processo, além de obter uma bebiba com mais corpo e sabor.
É desse processo que vem o nome espresso. Em italiano, espresso significa, prensado, comprimido, que é como o café é feito, comprimindo com vapor o pó contra o filtro. Logo, o café é espresso porque é comprimido, e não porque é feito rápidamente.
Após sua invenção, o caffè espresso, ganhou a Europa, a América e o resto do mundo, sendo um verdadeiro divisor de águas na história do café. Fica difícil imaginar o mundo de hoje sem o seu cafézinho espresso, não?